Platão - Segundo Jerphagnon

              Platão (428-348 a.C.) foi o mais conhecido, combatido e produtivo filósofo de Atenas. Herdeiro da aristocracia ateniense, discípulo fiel de Sócrates, iniciado nas “ciências esotéricas” do pitagorismo, sua vida desenrolou-se entre a frustrante guerra do Peloponeso, que consumiu 27 anos de lutas entre Atenas e Esparta, resultando no enfraquecimento das instituições e na implantação de um regime autoritário definido como o tempo da “ditadura dos Trinta Tiranos”, a frágil e contraditória democracia ateniense que condenava Sócrates à morte. A cidade vivia a turbulência da impostura, da violência e da mentira. A “ordem” legal condenara Sócrates à cicuta, a democracia corrompera-se pela demagogia, a própria Lei não representava mais a Justiça... Onde estaria o critério seguro que pudesse livrar desta situação de balbúrdia e conflitos? – pergunta o instigante Platão a seu tempo. Sua ação política e educacional desenvolveu-se no Akademos, uma espécie de escola de governo e de administração pública. Sua produção filosófica, rica e fecunda, foi exposta num gênero literário consagrado genuinamente por este, os diálogos, não somente à sua época, mas a toda a ciência política, ética e filosofia posteriores, perpassando já 24 séculos de uma impressionante e desafiadora atualidade.
Para Platão, a doxa é o critério das sensações. Podemos cometer enganos se estivermos determinados pelas sensações, mantendo nosso conhecer no nível da aísthesis, condicionados pelas sensações, mantendo nosso conhecer no nível da aísthesis, condicionados à filodoxia, que nos confunde e embrutece. Defendeu que é preciso superar a filodoxia pela filosofia, somente restando ao homem abandonar as sensações e voltar-se para a contemplação das idéias, das essências puras que não se alteram que não confundem e que somente são alcançáveis pelas almas intelectivas superiores, ascéticas, capazes de superar a ditadura das sensações e o determinismo do corpo para atingir o Bem supremo. Por este caminho atingir-se-á essência (oúsia) da Justiça, da Beleza, do Bem, da Bondade, que configura o logos, o saber de ordem mais elevada. Disto decorre sua teoria política, a lei deve basear-se na ciência: ou os reis se tornam filósofos, ou os filósofos se tornam reis, apresentando sua concepção aristocrática de poder, para que não se cometa erros como a morte de Sócrates. Decorre também sua ética: a virtude deve basear-se na razão, na essência do Bem e da verdade, e não sustentar-se sobre opiniões individuais.
A filosofia, para Platão, assume uma forma de conversão, de fuga e superação das coisas sensíveis e perecíveis, dos erros e percalços do mundo material, para uma contemplação absoluta, incontestável, fundande de toda ordem e verdade, critério de todo saber e plenitude. Sobre a intencionalidade da ética e política derivada de filosofia de Platão, afirma Jerphagnon;

[...] Não poderia haver separação entre moral pessoal e moral cívica, coletiva, e é por isso que o cidadão, menino ou menina, deveria estar, desde o nascimento, sob a tutela do Estado, porquanto este corresponderia às condições ideais da Razão. Os humanos são como marionetes fabricadas pelos deuses, e convém que eles se deixem manipular, não pelos fios de ferro das paixões, mas pelos fios de outro da Razão: é a Lei. [...] Pedagogos oficiais cuidarão da aplicação exata de um programa que vise modelar a massa no sentido da razoável e da seleção de uma elite intelectual e moral suscetível dos mais elevados empregos ( Jerphagnon, op. Cit.,p. 40)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...